sábado, março 31, 2007

Caminho solitário

Há momentos em que o cansaço é absoluto. Acredito que todos têm desses momentos, pelo menos numa determinada altura da vida. Ainda há dias, soube de uma amiga a quem foi anunciado que tinha um linfoma. Contráriamente ao que eu imaginava, quando a encontrei, vi à minha frente alguém cheio de garra.Não lhe senti desanimo, bem pelo contrário! Estava pronta para ir à luta! Quando me disse que ía rapar o cabelo, senti um nó... Mas lá estava ela a enfrentar o "inimigo", com uma enorme vontade de viver! Dei comigo a pensar que todos nós temos escondido dentro de nós uma força que desconhecemos. Que surge quando necessitamos dela! E é nos momentos dramáticos que ela vem ao de cimo... No nosso quotidiano, por vezes pleno de vazio, caímos numa total apatia, em que sentimos que as forças se esgotaram.Nada nos interessa, nem galvaniza. Porém, a "trovoada" vem e arrrebata por completo a nossa vida, e lá estamos nós cheios de força para a enfrentar! Para tràs fica o desanimo, o conflito entre o nosso eu e os outros. Tudo se torna pequenino e secundário e lá vamos à luta! Tudo é relativizado... Mas a verdade é que nesse esforço contra o desanimo estamos sózinhos. É um caminho solitário!

sexta-feira, março 30, 2007

Amar e precisar

Por vezes, queremos tanto alguém que a sufocamos com a nossa presença. Sem querer cair em frases mais que banais, a verdade é que a experiencia nos ensina que todos nós precisamos do nosso espaço.Talvez porque estamos todos cada vez mais individualistas, ou porque a sociedade cada vez exige mais de nós, mas a verdade é que cada um de nós tem necessidade de ter tempo para si mesmo. Tempo para pensar, para passear, para observar, ou tão simplesmente para não fazer nada. Ou se pudermos, para tratarmos de nós. Ir a uma massagem ou ao cabeleireiro por exemplo, são mimos que sabem bem a qualquer mulher. Isto tudo porque recordo tempos em que, porque me sentia ansiosa, não conseguia estar sózinha.Procurava permanentemente os outros.Fossem eles amigos, fossem namorados.O resultado era fatal!As relações acabavam, sem eu perceber porquê! Não estou aqui a defender o puro egoísmo, em que cada um se põe no seu canto. Estou a falar antes, em respeito pelo outro, pelas suas necessidades. Isso sim é amar, bem diferente de precisar...

quinta-feira, março 29, 2007

O sinal

Como é sabido, no concurso de televisão " Os grandes Portugueses", a figura escolhida pelo povo português, foi a de Oliveira Salazar, Primeiro -Ministro durante o Estado Novo. Não é sobre o personagem que vou dar a minha opinião.É antes, sobre o comportamento dos nossos políticos, ditos democratas, perante o resultado do concurso. Pois é, não entendo como é que figuras públicas que tanto defendem as liberdades, têm reacções como as que assistimos na nossa televisão pública! Primeiro, observa-se a uma atitude perfeitamente parcial de alguém que devia ser totalmente isenta.Claro que falo da apresentadora, Maria Elisa! Segundo, apesar de várias tentativas no sentido de desviar a intenção de voto dos portugueses, Salazar ganha com primazia. Terceiro, as reacções de alguns políticos presentes, foram desilegantes e anti democratas. Quarto, partidos de esquerda, supostamente defensores da liberdade de expressão, apelam a que o director de programas da RTP seja chamado à responsabilidade! Como simples cidadã deste país, entristece-me que os nossos políticos, em vez de terem comportamentos tão desadequados como este, não percebam o verdadeiro sinal deste resultado. A insatisfação do povo português por promessas não cumpridas. A insatisfação de uma liberdade que só lhes traz miséria. A insatisfação de uma democracia em que impera a autoridade e a falta de respeito pela Pessoa nas Instituições. A insatisfação pela falta de alma de um país vazio de crenças e metas. Porque será que se recusam a ver o verdadeiro sinal desta eleição?.... Provavelmente a sua própria pequenez, não os deixa ver para além do seu umbigo...

quarta-feira, março 28, 2007

Música e Letra

Ontem fui ver o filme "Música e Letra" com o conhecido actor Hugh Grant.
Particularmente adoro este actor pelo seu charme tão english.
No final do filme, ouvía-se"é um flime ligeiro". E depois ,pergunto eu...num mundo tão pesado, não é fantástico poder assisitir a um filme deste género?!
Além disso, não é fácil fazer rir e a verdade é que se ouviam gargalhadas na sala.
E a brincar se diz muita coisa...
A magia do imprevisto, da cumplicidade, da ausencia de negociações,quando se quer verdadeiramente alguém...
No meio de muito ritmo, de graça oportuna, assistimos a uma linda história de amor!
E como dizia um amigo meu, até a cantora famosa se rendeu à qualidade e ao romantismo e claro está que o público, que nem cordeiros de um rebanho, tanto aplaudiram o bom como o mau do espectáculo...
Assim é o mundo em que vivemos...tão semelhante...

A raposa

O fim-de-semana passado vivenciei algo de inédito.No meio da serra, a 1600 metros de altitude, concretamente nas Penhas Douradas, vi uma raposa.Primeiro desconfiada, escondia-se por entre as pedras.De seguida, cheirou-lhe a comida e aproximou-se cautelosamente da casa, ou não fosse uma raposa... Tinha sido colocado um prato com carne, nos degraus da casa e ávidamente a raposa comeu e afastou-se de novo. Até aqui, nada de surpreendente.O momento fantástico estava ainda para vir.Junto á casa, estava uma taça com ração, para o cão dos donos da casa. Eis que nos apercebemos que de repente, a quantidade de ração diminuira.Quem sería?...
Pois quando a dúvida surge, vimos de novo a raposa aproximar-se e desta vez, vimo-la comer a ração do cão! Como se isto não fosse por si só surpreendente, aproximamo-nos dela e ao invés de fugir, deixou-se ficar! O receio tinha desaparecido e ali estava ela à nossa frente, serenamente comunhando connosco. E admirados observamos o animal selvagem. Comia ração própria das sociedades modernas, convivendo amigavelmente com seres humanos que ela nunca vira! Com um focinho afunilado e sem uma parte do pelo, deixava adivinhar já alguma idade. Deixou-se fotografar e acabou por ir embora. Ficamos a vê-la desaparecer por entre os pedregulhos brancos, recortados pela urze lilás e pela manta verde que cobria a serra. Para onde íria? Será que tinha filhotes? Será que estava sózinha? Ficamos sem saber...Mas senti que,ao contrário do que contam as fábulas, aquele animal supostamente astuto, simplesmente se entregara...

terça-feira, março 27, 2007

Vida de jornalista

A vida é uma permanente aventura! Há pouco mais de dois meses achava que tinha encontrado o meu caminho.Trabalhava como jornalista num jornal regional que iniciara um projecto novo e aliciante. O tempo voava com tanta coisa para descobrir, para aprender, para fazer... Ora falava com um artesão, como logo de seguida entrevistava um advogado, como fazia uma reportagem sobre uma instituição.A diversidade de assuntos abordados ao longo do mesmo dia, era fascinante. Na mesma semana, escrevia sobre política, flores, restaurantes, folclore, biotecnologia, museus, sei lá, uma infinidade de temas! De manhã à noite não parava, sempre à procura de novos temas para abordar. A ritmo alucinante, ora falava com as pessoas, ouvindo atentamente, apontava o que me íam contando, apanhando as suas expressões, ora escrevia à pressa o que acabara de ouvir e observar. No final da peça construída, escolhia os titulos e as fotos. Assinava e estava pronta para enviar. Dia após dia, semana após semana assim foi a minha vida! Não tinha vida própria, mas adorava o que fazia e por isso ía aguentando todas as pressões. O meu trabalho começou a incomodar alguns e quando dei conta, já não trabalhava no jornal! Não me sabia relacionar com as pessoas, foi o pretexto usado no meio de uma conversa sem sentido, em que quem pode manda e se lhe apetecer, grita e insulta! Tudo é desvirtuado e nem sabemos como, nem porquê! Apenas senti que incomodava. Quanto mais trabalho apresentava, mais o ar que se respirava na redacção se tornava pesado. Gostava do que fazia e por isso cada dia era uma nova descoberta e uma porta que se abría. Quando começava a colher o que semeara, venho embora! Tudo acabara e nem sabía o motivo. De cabeça erguida, peguei nas minhas coisas, que adquirira para trabalhar e bati com a porta. E assim foi a minha experiencia de jornalista...