Faltam apenas uns dias para o Natal e confesso que é uma altura em que sinto uma especial nostalgia. Ano após ano, a mesa da noite de Consoada foi diminuindo o número de elementos à sua volta.
As prendas foram substituindo os afectos.A alegria genuína deu lugar a uma alegria imposta.
A azáfama na cozinha com os pratos tradicionais da época, foram sendo substituidos por outros.Enfim, é uma altura de recordações de outros Natais vividos com toda a família reunida.
Em que a saudade enche os corações.Em que aqueles que estão bem, melhor se sentem, mas os que estão mal, pior ficam.
Os que estão sózinhos, é nesta altura que mais sentem na pele a solidão.Como dizia Madre Teresa, a verdadeira doença da sociedade actual, não é a tuberculose, mas o medo do abandono, da rejeição, da falta de amor.
É também a época em que aqueles com mais necessidades, sentem de forma mais acentuada as diferenças sociais, com os centros comerciais repletos de gente a fazer as compras de Natal, em contraste com os sem abrigo.
Mas também aqueles que estão hospitalizados e por isso afastados das suas famílias, sentem como nunca, a angústia da sua doença e o quanto é penoso não poder partilhar a Consoada com aqueles de quem gostam.
Acho mesmo que o Natal se transformou na época do ano de maior hipocrisia!
Em que tudo aparenta ser perfeito, mas na realidade, nem os gestos de solidariedade para com os outros se manifestam, a não ser nas prendas...essas são obrigatórias e deixam-nos a sensação de dever cumprido!
Em que cada vez mais cedo, o marketing feroz nos impõe músicas e decorações natalícias por todo o lado.
Em que os pinheiros de Natal, cheios de luzes e bolas coloridas, substituiem os singelos presépios feitos com musgo e figuras de barro.
Enfim, reflexos dos novos tempos...